hahahaha, foi mal Tinks :PAntes de postar minha mais atual postagem, queria avisar que mesmo este blog sendo anônimo, não temos problema em dizer nossos nomes, ou quem somos (não ainda).Agora, vamos com um real post.Binóculo.
Por Mario Prata.
"Ganhei muitas flores no aniversário. E um binóculo, da Ângela, que vive de pesquisas históricas. Só mesmo uma historiadora para ter uma idéia dessas. Os historiadores gostam de ver tudo de perto. Principalmente fatos distantes.
As flores murcharam, à média distância. E o binóculo ali, na mesinha a me observar. Bonito, prateado. Deve ter custado caro. Claro que quem dá um binóculo para uma pessoa como eu, solteiro e rodeado de prédios e janelas tentadoras e indiscretas, tá mais a fim é de me ver procurando mulher pelada. Todo mundo sabe que a única finalidade do binóculo é o peito nu da vizinha. Foi inventado em 1645 com essa primordial finalidade. O meu filho viu a peça, pegou. Todo mundo que vê um binóculo pega. E procura a janela. Depois me informou que luneta é melhor. Melhor, pra quê? Li o manual e instruções, em alemão. Entendi tudo, porque tinha desenhinho.
Ainda bem que era alemão, porque é impossível entender qualquer manual de instruções em português. Não é? Experimente um dia, trocar o pneu do seu carro, lendo o manual de instruções. Experimente. Melhor não experimentar.
Há uma semana, comecei a usar o binóculo. Minha vida nunca mais seria a mesma. Vicia. Esse troço devia ser proibido. Hitchcock, o mago do suspense, sabia disso. O que seria daquela janela sem o binóculo?
A empregada do oitavo andar (prédio da frente), por exemplo, não era bem o avião que eu sempre imaginei. Além da falta de um canino, tem um joanete descomunal, posto em observação quando ela se senta na mureta para limpar os vidros. Os peitinhos, razoáveis. Não raspa a perna.
Já aqui no prédio da esquerda, no quinto andar, o casal vai mal. Infelizmente o meu binóculo não é sonoro, mas, pela movimentação elisiana dos braços e mãos da mulher, a coisa vai de mal a pior. O marido não fala nada. Ouve. Há cinco dias que ele ouve. Enquanto isso, no quarto de empregada, a residente lê Caras, com caras e bocas.
No andar de cima, aquele aposentado (sim, não sai de casa nunca) faz palavras cruzadas (nível fácil) o dia inteiro. Na piscina, a mais gostosa é mesmo a loiraça do décimo primeiro que só faz malhar. Casada - vejo daqui a aliança -, está sempre com o desempregado do quinto, também de aliança.
Venho torcendo para rolar alguma coisa, afinal, a cama dela possibilita boas imagens aqui do meu potente Tasco (é a marca dele). Acho que vai rolar. Mulher, quando ri muito das besteiras dos homens, está a um passo de perguntar o horóscopo que, como você sabe, é propor eminente e iminente sacanagem.
Mas como!? Aquela que briga com o marido está, neste momento, fazendo uma mala. Dela? Dele? Ele não está em casa. Ela joga tudo dentro. Agora dá pra ver. São roupas de homem. Meu Deus, quando ele chegar (sempre por volta das 8) a coisa vai ficar boa. É só apagar todas as luzes do meu apartamento, virar a poltrona e esticar o pescoço e as lentes. E um pouco de imaginação.
O casal gay da direita, terceiro andar, é felicíssimo. Jantam, veladamente, à luz de velas. Um exemplo para o casal que mora no andar de cima: jovem, constituído de homem e mulher. Ela tem sistema nervoso, como diria a minha empregada. Não sei se ainda há algum prato na casa dela. Outro dia um voou até pela janela, indo atingir a perna do filho do zelador, lá embaixo. Veio polícia e tudo, mas não descobriram de onde partiu o prato. Eu fiquei na minha.
Tudo ia bem na minha vida até que descobri que o adolescente do décimo primeiro, da direita, tem uma fantástica luneta, direcionada diretamente para a minha janela. Isso foi o bastante para que eu fizesse um levantamento de todas as minhas realizações aqui na sala, de um mês para cá, e ficasse meio envergonhado. E o bastante também para que fechasse todas as janelas. E agora a situação está assim. Basta eu abrir um pouco a janela e olhar que ele está lá, a postos, seguindo a minha vida.
Eu aqui escrevendo e o garoto lá, me olhando. Vai virar cronista, quando crescer.
Sem binocular olho para a rua (a mesma do prefeito) e vejo os buracos e calombos. A Prefeitura bem que podia mandar alisar. Deve ser tão fácil como alisar os cabelos, por exemplo. "
Atenciosamente,Peter Pan.